sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Musica e personalidade. (Ensaio produzido para o Jornal Unicom)

 Há pouco tempo, discutir música era algo limitado apenas aos profundos conhecedores dessa arte. Rótulos eram inaceitáveis, e quem os assumia era discriminado por aqueles que cultivavam uma paixão por um estilo oposto. Música boa era aquela que não fugia de suas raízes, e menos ainda, vendia-se ao cunho comercial. Antes, gravar um disco exigia tempo, dinheiro e conhecimento, e ainda havia uma grande dificuldade em ingressar no mercado musical. Hoje, com um bom computador e programas de edição, qualquer banda pode gravar seu disco, e há diversas ferramentas on-line para divulgação do mesmo.
Irwin Rocha, produtor musical da BURNING, já dizia “Indiscutivelmente acho dificil termos despontado no mundo, hoje, bandas como foi o Guns N’ Roses, como foi Led Zepllin. Nem vou citar Michael Jackson que seria até uma ofensa. Não é que a música de hoje é pior do que a de antigamente, mas a tendência mercadológica que se criou em cima disso levou pra que fosse assim”.
Nos anos 90 víamos muitas pessoas correndo contra a corrente, ninguém gostava de rótulos e eram fiéis ao seu estilo pessoal e musical. Mas, a música foi evoluindo (ou não, dependendo da sua percepção), e o que passou a ser importante não é mais o conteúdo musical, nem a qualidade de timbre de voz: a imagem vale mais. Pegamos bandas como Cine e Restart, sem as roupas coloridas, o cabelo estrategicamente posicionado, e o jeitão de moleque, o que teríamos? Um som mercantil trabalhado para dar certo, para um público teen pop consumidor. Se fizessem uma pesquisa de mercado, todos veriam que as calças coloridas, por exemplo, vendem muito mais que os CDS dessas bandas. O público jovem consome o estilo. Logo, cada vez mais vendem-se à um estereótipo, coisa que a juventude dos anos 90 evitava com todas as forças.
Rótulos passaram a ser legais. Há uns 5 anos atrás, era moda ser “emo”, todos os jovens adoravam e seguiam esse segmento musical, Fresno era uma banda, na época, consagrada como “emo”. Mas, preste atenção nas letras poéticas da banda Fresno, e depois as compare com as conhecidas bandas “coloridas” que estouram nas paradas de sucesso musical atualmente.
Este não é um texto pró nem contra qualquer banda “emo” ou “colorida”. Mas é inegável que a juventude – ou boa parte dela – rendeu-se ao mercado, vendeu-se à mídia que lhe empurra essa gama de informação nova, e já não relativizam mais o que realmente os agrada, e o que não. Parece que é mais fácil estar na moda, do que manter sua personalidade, indiferente da maioria. Ser diferente, ter opiniões e gostos próprios costumava ser legal, fazia parte da sua identidade. Hoje possuir uma identidade própria, fugindo do que é “moda”, é estranho. Todos são rotulados e gostam disso. A juventude está padronizada.
Sempre houveram estilos predominantes, e aqueles que se enquadravam, e eram influenciados por estes estilos. A Universidade de Leicester, na Grã-Bretanha, através de uma publicação na revista Psychology of Music, traçou um estudo sobre isso: através de 2,5 mil entrevistados descobriram que uma coleção de CDs pode revelar muito mais sobre a personalidade de alguém do que se imagina.
Música é universal, seria impossível negar que já passou, há muito tempo, a ser mercadoria, pela gama imensa de cultura que nela se insere, sendo ela comercial, mercantil ou independente. Música será sempre música. O que preocupa é a distorção que está se criando sobre ela, sobre seu estilo e sobre a personalidade de quem a consome. Se música, atualmente é tratada como estilo: você já parou para pensar o que seu estilo diz sobre a sua personalidade?

Por Joana F, Scherer (@jooomla) - Acadêmica de Jornalismo / Equipe (Des)Conta-Ação 


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ao pé da letra! [Dance Of Days]

 (Des)Contra-Ação: Nenê, em 1986 ocorreu teu primeiro contato com o movimento punk. Como foi para você esta aproximação e preservação desta filosofia de vida?

Nenê Altro: Eu acho que cada um tem sua maneira de se relacionar com o punk. Não critico ninguém. Comigo e com os amigos com que busco me relacionar o punk se tornou uma maneira de resistência pessoal, de conseguir respirar e sobreviver num mundo que não tem absolutamente NADA a ver conosco. E quanto mais você vive o punk mais ele faz parte de você. Não é aquela coisa de chegar no final de semana e colocar um visual e ir num som. Não tem nada a ver com roupa e música. É acordar e se sentir assim, resistir pela existência.


(Des)Contra-Ação: Com a banda punk Sick Terror, vocês fizeram uma representação consideravelmente marcante, uma vez que visitaram muitos países. Como é tocar lá fora? Qual é a receptividade do publico?

Nenê Altro: Cada cena tem o seu perfil. É bem legal. Fizemos o circuito punk squatter duas vezes, a primeira em 2002, passando por 5 países e a segunda em 2004, por 16 países. A cena da Europa tem essa característica de ser mais politizada, mas ao mesmo tempo não é panfleteira, aquele lance de polícia de pensamento que rola por aqui saca? E não tem essas tretas idiotas de galera. Então o lance fica bem mais legal. Todos os shows foram ótimos. Os que mais curti foram no Kopi na Alemanha com o Cop On Fire e os no Thrashfest com o Municipal Waste e num squatt com Seein´Red, ambos na Holanda, todos em 2004. Em 2002 a parte mais legal foi a Finlândia. Fora a cadeia, é claro rsrsrs


(Des)Contra-Ação: Você considera o público da Dance Of Days mais "fiel" que o público de uma banda "pop comercial"? Isso se daria ao fato dessas bandas serem consideradas modinhas e, como sabemos, alguma hora essa moda passa?

Nenê Altro: Tem um amigo meu que diz que existem os fãs de punk, os fãs de hardcore, os fãs de pop, os fãs de emo e os fãs de Dance of Days. Que a maioria não bate bem da cabeça rsrsrsr Eu concordo, a maioria é doido, muito passional, entregue a música, a tudo que fazer parte disso significa. E a fidelidade se deve a isso. Não vivemos sem nosso público e vice versa. Acho que é uma resposta natural a tudo o que somos. Somos exatamente iguais. Nenhum da banda é muito normal não...


(Des)Contra-Ação: Quais eram seus objetivos no início da DOD que permaneceram e mudaram com o passar dos anos na carreira musical?

Nenê Altro: Continuam sendo os mesmos. Fazer o que quero sem dar satisfação pra ninguém e cagando para o que pensam ou deixam de pensar de mim.


(Des)Contra-Ação: Qual a mensagem que a DOD procura passar para seu publico?

Nenê Altro: Sejam vocês mesmos e aproveitem ao máximo cada segundo de suas vidas.


(Des)Contra-Ação: Muitas bandas utilizam da mídia para mostrarem seu trabalho, e assim, tentar ser vistos por produtores e gravadoras em busca de oportunidades no cenário musical nacional. Você nunca visou esses objetivos, uma vez que a mídia pode ser uma ferramenta essencial para divulgação e propagação de conteúdos?

Nenê Altro: Não. Não temos preconceito, se nos chamam tocamos onde quer que for, seja no Abril Pro Rock ou no menor bar de periferia, seja na TV ou na rádio da escola, mas não fazemos NADA pra chamar a atenção de ninguém. As poucas vezes que tivemos produtores interessados em ajudar ou fazer parcerias eles olharam pra gente (na verdade pra mim) e viram que ia dar muito trabalho. E na verdade ia mesmo. Sou muito boca dura e entre fazer o show me sentindo bem, seja bêbado ou sóbrio e fazer sala pra não desagradar produtor eu sou mais eu.


(Des)Contra-Ação: Nenê, suas bandas sempre foram bandas que, podemos dizer, eram mais ligadas ao que não era ‘popular e mercantil’. O fato de passar por mudanças sempre que surgisse uma nova ‘moda’, por conseqüência ou não, ajudou a deixar a marca de suas bandas? Por quê?

Nenê Altro: Nunca mudamos pelo que estava acontecendo a nossa volta. Na verdade se você pegar cada disco e o que estava acontecendo na época, na maioria das vezes estávamos contra a corrente. Mas o fato é, fazemos o que queremos da maneira e na hora que queremos. E isso reflete nos discos. É só ver o disco preto que acabou de sair...



(Des)Contra-Ação: O jornal Antimídia ganhou uma aceitação muito bacana. Como ocorreu o surgimento da idealização e quais os principais motivos pra ele continuar circulando até hoje, depois de 10 anos de atuação?


Nenê Altro: Simples, faço fanzine desde 1986 ou 87 e desde então nunca consegui parar de escrever, xerocar, distribuir as coisas que penso. Faz parte do que sou. O Jornal Antimidia foi e é uma consequência de tudo isso.


(Des)Contra-Ação: Como criador do Jornal Antimidia, se recebesse um convite para participar de um evento musical com bandas tidas como “comerciais”, com cobertura nacional pelos meios de comunicação, aceitaria esse convite?

Nenê Altro: Se eu pudesse falar mal de quem quisesse e ganhasse muita bebida de graça porque não?


(Des)Contra-Ação: Nenê, o público em geral hoje em dia sofre consideráveis influências, de forma mais direta ou não. Isso é uma preocupação para você, uma vez que atua como porta-voz de muitos jovens e adolescentes?

Nenê Altro: Eu não me vejo como porta voz de ninguém. Muito menos exemplo. Na verdade costumo dizer que nós somos a banda mas que somos todos Dance of Days, banda e público. É um espírito, uma força que nem tem como descrever. E eu acho que quem fica é porque começa a ter tudo isso como parte da vida mesmo. Se o que está rolando por aí muda a cabeça de alguém é porque a coisa nunca bateu de verdade no coração da pessoa. Eu acho que a pessoa vive sim numa eterna busca, que tem sempre que conhecer e aprender, trazer pra si o que é bom e abandonar o ruim. Mas se a pessoa não aprende é melhor que vá curtir outra coisa mesmo. Não tenho paciência pra gente que gosta de ser idiota.


(Des)Contra-Ação: Muitas pessoas falam que as bandas, ao possuírem contrato com uma gravadora ou produtora, acabam se vendendo ao que estas julgam mais “rentável”. Você concorda? Por quê?

Nenê Altro: Concordo. Porque se a pessoa entrou nessa o objetivo óbvio dela é ganhar grana, então que ganhem logo essa porra e não fiquem no nosso meio tomando espaço de quem vive o independente. O porque de fazerem isso, aí eu já não sei. Não tem nada a ver comigo.


(Des)Contra-Ação: Nenê, na sua opinião, qual a característica que julgas mais marcante em si próprio, como músico e como pessoa?

Nenê Altro: Faço e falo o que eu quero. Na maioria das vezes sem pensar.


(Des)Contra-Ação: Você começou a escrever muito jovem ainda, desde quando era menor de idade. Agora você lançou um livro chamado “Os Funerais do Coelho Branco”. Qual o release deste livro?

Nenê Altro: Hmmm... release? A pessoa passa por um surto de depressão e vai morar na boca do lixo, entre os bares da Rua Guaianases, da Julio Prestes, do Arouche... aí acorda umas semanas depois com mais cicatrizes no rosto e um livro de poesia escrito em guardanapos. Esse é o release mais sincero que posso pensar.


(Des)Contra-Ação: Em que você se inspira para compor suas canções, seu livro, poemas, etc?

Nenê Altro: Na minha vida pessoal. É tudo sobre mim.



(Des)Contra-Ação: Ao que se deve seu comportamento tão “peculiar”, o que faz de você ser uma pessoa tão consagrada na cena musical, uma vez que não utiliza da propagação de informações midiáticas para se expor?


Nenê Altro: Como assim peculiar? Rsrsrsr Bom, eu estou no meio independente desde o final dos anos 80, é claro que devido a isso conheço muita gente, tenho muitos amigos e nunca deixei de produzir. Acho que é isso. E quanto a banda, acho que seria algo mais ou menos na linha do que os anarquistas costumavam chamar de “propaganda pela ação” no início do século passado.


(Des)Contra-Ação: Nenê, o blog fala muito sobre temas sociais e políticos. Sem entrar muito nesse assunto, gostaríamos de saber sua opinião sobre as eleições políticas, e todas essas questões de votos.

Nenê Altro: Eu não voto. Não reconheço. Nem apareço pra votar. Nem pra votar nulo. Pra mim qualquer um que estiver no governo dá na mesma. Não é o meu governo. E toda lei, seja ela do PT ou do PSDB só fode a minha vida. Clichezão da porra, mas na real é isso mesmo. E sempre vai ser.



(Des)Contra-Ação: Você acredita que existe mesmo o termo "liberdade de expressão", uma vez que a mídia só divulga e foca aquilo que lhes é aceitável? Seria esse um dos motivos para muitos jovens se rebelarem e procurarem, cada vez mais, se informar, discutir e propagar opiniões e conhecimentos próprios?


Nenê Altro: Cara, minha opinião sincera mesmo é: não espere nada dos outros. No caso da mídia, crie sua própria mídia, fora de controle. Boca a boca, cole cartazes, faça panfletos e zines. Aí ninguém tem controle. Ficar vivendo de migalha de rodapé de jornal deve ser um porre. E esse papo de lutar por liberdade de expressão aí fazia sentido mesmo na época da ditadura, agora tem que manter isso sim, não deixar a porra do Estado controlar sua vida mas ir além, sempre além. O indivíduo não deve se condicionar a vontade dos mecanismos de controle da sociedade, mas também a de nenhum outro indivíduo. Principalmente se o outro indivíduo em questão for muito chato rsrsrsrs


(Des)Contra-Ação: Nenê, se pudesse mudar alguma opinião do senso-comum, e moldá-la ao seu modo, o que seria? Por quê?


Nenê Altro: A religião não deveria ter poderes nem influência sobre a vida comum. Cada um cada dois e cada um faz com seu Jesus o que quiser entre quatro paredes. Não usar uma cruz e um livro pra foder com a vida dos outros.


(Des)Contra-Ação: Existe alguma característica na música considerada "mais antiga" que você gostaria que fosse cultivada sempre? Qual?

Nenê Altro:  O timbre de guitarra do SUB.


(Des)Contra-Ação: O que você anda escutando ultimamente?

Nenê Altro: O de sempre... Cólera, 365, Olho Seco, Inocentes, DZK, Ratos...


(Des)Contra-Ação: Você já leu o artigo que escreveram sobre você no Desciclopédia?

Nenê Altro: Já.


(Des)Contra-Ação: O que achou dele?

Nenê Altro: Bobo.


(Des)Contra-Ação: Considerações finais.


Nenê Altro: Valeu pelo espaço. Estamos na “Nova Partida Tour” divulgando o novo álbum que está disponível de graça pra download no tramavirtual e está sendo vendido a 5 reais nos shows por todo país. Leiam as letras. É sobre nós. É sobre vocês. E quem quiser ler meus novos textos eles estão todos em meu blog nenealtro.wordpress.com.



quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Adicionaram 111 no Rock'n'Roll! - Parte III












 (Des)Contra-Ação: Tem-se na cultura africana que os tambores e os sons repetitivos produzem o efeito necessário para o domínio dos espíritos malignos. Você concorda com esta conclusão?


Louiz: Tudo que você faz na sua vida tem algo lá de dentro que te motiva.. chamado de emoção! Então suas intenções são o que realmente atraem as coisas a você. No caso da manifestação espiritual você está descarregando no tambor ali a sua intenção. Não que seja o tambor, mas na sua intenção e o som do tambor causam uma certo transe.

 (Des)Contra-Ação: Frente a esta declaração alheia a respeito dos instrumentos musicais e música em si: “Há instrumentos próprios para certos tipos de música e efeitos. Isso faz com que alguns instrumentos sejam associados à orgia, pagode, sensualidade, revolta, bagunça e diversão e por isso deveriam ser evitados na igreja.” Concorda?

Louiz: Absolutamente não. A intenção no coração é que é pecaminosa e não o simples instrumento. Isso é religiosidade, nada a ver heresia. Somente se UM único instrumento isolado fosse consagrado para tal finalidade, todavia, todos os instrumentos e estilos de música são para Deus. O dom vem de Deus e pra Deus tem que voltar. Mas muitos usam seus talentos para outras coisas. Vai do livre-arbítrio.

(Des)Contra-Ação: Quanto as bandas cristãs de Metalcore, Post Hardcore e outros gêneros (voltados para o rock, metal, etc), você acredita que há preconceito sobre este estilo de música por parte da população, mesmo sendo bandas declaradas "cristãs?

Louiz: Não há preconceito, sendo que as bandas que são mais ouvidas e que mais influenciam no estilo são as cristãs e quanto a isso não restam dúvidas. E Gloria a Deus porque antigamente tinha aquela frase "O ROCK É DO DIABO”. Rock é a expressão musical mais diversa que existe, é uma arte e como eu disse “arte é um dom” e o dom provem de Deus e para Ele deve voltar. Hoje há bandas cristãs ativas (bandas até Proselitistas) que são verdadeiros ministérios! Bandas cristãs não sofrem preconceitos, mas também o povo não dá o valor que elas merecem. Graças a essas bandas cristãs - e eu sinto como um detalhismo de Deus-  essas bandas fizeram essa frase ser antiquada e de um religiosismo quase arcaico.

 (Des)Contra-Ação: Certo! Como você comporta a Declínio diante essa nossa discussão, "Música de Igreja"?

Louiz: A declinio não é uma banda cristã porque somente eu sou convertido, sei que Deus tem um propósito e algum plano pra gente. Isso é confirmado em meu coração, por isso continuo na banda porque já larguei eles em alguns momentos em que eu não entendia bem sobre as coisas de Deus. Hoje eu sei que posso ter uma banda com pessoas que não são convertidas e não me corromper e tal, passar uma mensagem legal e....quem sabe a vida deles um dia encontre o caminho, caminho da verdade e vida né.! Haha