segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É a hora de ser independente em São Paulo! [Zona Punk]

Diante do falso e polêmico episódio da auto-demissão do diretor da (Zonta) após a premiação de algumas bandas no evento, contatamos Wlad Cruz da Zona Punk, editor e Jornalista, para questionar sobre o fato. Ainda na oportunidade, conversamos sobre a realização da Semana da Independência que ocorre em São Paulo, evento que atrai e prioriza bandas independentes.

Banda Restart levou um dos prêmios no evento produzido pela Multishow. Achou justo? Por quê?

Wlad: Não existe esta de justo ou não. É votação popular, ou seja, quem tem mais votos, leva. O público do restart é em sua maioria (pré) adolescentes, que além de passionais, tem um longo tempo ocioso, o qual usa pra votar. Ou seja, é meio óbvio que bandas com este perfil ganhe de outras com um público mais velho. O sistema de votação é "errado". Entre aspas, pois se é uma votação popular, é o publico que vota.

Acredita que há falta humildade nas grandes bandas nacionais mercantis? Por quê?

Wlad: É relativo isso. Nunca passei por este tipo de problema com nenhuma banda, mas imagino que sim, o endeuzamento dos jovens em cima de bandas jovens, cause esse deslumbre. É o famoso "sobe pra cabeça".

Qual o perfil adulto de uma pessoa que somente absorveu esse tipo de informação durante toda a sua adolescência, em dias que precisamos estar tão alertas em relação as crises? O que podemos esperar desses jovens?

Wlad: Acho que nada. Os jovens de hoje, são jovens como em qualquer época. Todo jovem se acha dono da verdade, esperto, descolado etc. A diferença é que hoje existe muito menos conteúdo cultural no mercado. Ser jovem em 86 não é muito diferente de hoje. Os fãs do Restart de hoje, são como os jovens fãs das Spice Girls nos 90 ou do Menudo nos 80. Sempre há os dois lados, o razo e o profundo. Opções inteligentes sempre se teve. Se nos 80 tinha, sei lá, o Legião, hoje pode-se buscar outras bandas conteúdo para curtir. Mas a massa pop sempre vai buscar o que está em destaque na mídia, seja quando for.

E quanto ao evento da Semana da Independência, é uma forte iniciativa que deveria ser tomada como exemplo de atitude por bandas independentes de outros estados. O esforço para manter essa essência que o evento prega é compensatório? Por quê?

Wlad: É compensatório porque é minha vida. É meu trabalho e dia-a-dia, há anos. A maioria de tudo que cerca minha vida vem e vai pra esse meio, e acredito nele. Portanto, o mínimo a fazer, é mante-lo em chamas. E todos que acreditam nisso deveriam fazer sua parte, seja como for.

Como você vê a recepção do evento - Semana da Independência - por parte de bandas comerciais?

Wlad: Muitas das bandas comerciais de hoje vem da mesma cena, então acham bacana a iniciativa. Não é uma afronta ao outro, é uma valorização do nosso.

Muitas bandas independentes produzem um trabalho maravilhoso. Há uma certa ‘recusa’ de aceitação do material produzido por estas bandas em certas situações. Por que isso acontece, mesmo sendo um trabalho de qualidade?

Wlad: Novamente, falamos de mercado, não de arte. O mercado não engole certas coisas, não é aceitável. Não dá pra imaginar por exemplo o Dance of Days tocando num programa da tv aberta com uma música defendendo o ateísmo. O mercado não deixa, o que é fora dos padrões - determinados pelo próprio mercado de tempos em tempos - entrar e se espalhar. E claro, isso é transitório, já que o mainstream colocou e co-optou discos e bandas como Raimundos ou Plebe Rude - que cada uma a seu tempo, tinham conteúdo 'agressivo' ao mercado. Modas vem e vão. Vai que a próxima moda é o punk 77? ou o grind-core? Não da pra saber.

Acredita que a música produzida no Brasil por grandes produtoras, dando destaque a bandas como Restart e Cine, por exemplo, pode ser entendida algumas vezes como um material planejado estrategicamente para ‘dar certo’ e empurrado para o público,pelos meios de divulgação, acabando assim sendo a grande mercadoria consumida pela massa?

Wlad: No caso das bandas que você citou, por exemplo, não. O mainstream veio busca-las no independente. O Cine, ponta de lança da música pop jovem de hoje, fazia (faz) uma música baseada no que está bombando lá fora, uma música jovem, pop, com toques eletrônicos, visual up etc. Conquistaram o publico - igualmente jovem - primeiro no independente, e depois foram co-optados pela major, que no caso destas duas bandas, só teve o trabalho de espalhar e expor ainda mais um produto que já estava pronto. Existem claro, bandas fabricadas diretamente no mainstream para consumo, tipo BR'oZ e coisas assim, mas no final das contas, é um grande pau de sebo. Alguns ficam, outros caem, outros somem.

Como você classifica e definiria o que é produzido pela Restart?

Wlad: Música pop jovem. Não tem nada a ver com rock. É pop, como é sei lá, Luan Santana, Roxette e Britney Spears. Não consumo, não gosto e não me afeta.

O que deveria ser feito para mudar os rumos que a musicalidade no Brasil está tomando? Quais as medidas sem adiamento que deveriam ser tomadas?

Wlad: Fazer o seu e se preocupar menos com o do outro. Foda-se se o Restart ganhou um prêmio do multishow, da globo etc. Faça o seu. Divulgue o que você acha bacana, ensine, spread the word. O mercado mainstream sempre existiu e sempre teve seus fenômenos pop, de RPM ao Restart. Compra quem quer. Se você tem dissernimento pra saber que artista X não tem conteudo, não te agrega, então busque o que te identifica. Mas tenha em mente que quem curte e apóia esse tipo de artista (popular) em sua maioria são jovens e sem base pra buscas mais profundas. Não espere que uma menina de 14 anos se identifique com um Cazuza por exemplo, ou com o Frank Zappa. Apóie quem você acha que tem que ser reconhecido, e quem sabe assim, apoiando mais quem (ou o que) você acredita, isso (ou ele) fique maior.

Qual a mensagem que você procura passar pra galera que luta por fazer música com independência?

Wlad: Que faça música, arte pela arte, não pelo dinheiro ou pela fama. Toque, faça o seu, divulgue e acima de tudo, seja realizado com o que está fazendo.



P.S.: Caros leitores do (Des)Contra-Ação. A entrevista de Wlad, da Zona Punk, foi re-editada devido a denuncia da informação falsa da demissão de Zonta (diretor da Multishow). Pedimos desculpas perante a má apuração desta informação; Porém, a entrevista com Wlad é de total e completa competência e entendimento musical.

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